O mundo depois do novo coronavírus

Partilho algumas partes do artigo que foi publicado originalmente no Finantial Times por Yuval Harari, cuja tradução foi publicada pelo Expresso no passado dia 4 de abril. O académico israelita, autor da obra “21 Lições para o Século 21”, reflete sobre o que mudou na nossa vida desde o início da pandemia e de que forma as escolhas que estamos hoje a fazer poderão influenciar o nosso futuro:

“Uma população automotivada e bem informada é normalmente muito mais poderosa e eficaz do que uma população policiada e ignorante. Considerem, por exemplo, o ato de lavar as mãos com sabão. Foi um dos maiores avanços de sempre na higiene humana. Esta simples acção salva milhões de vidas humanas todos os anos. Embora a tomemos por garantida, só no século XIX é que os cientistas descobriram a importância de lavar as mãos com sabão. Antes, mesmo médicos e enfermeiros passavam de uma operação cirúrgica à seguinte sem lavarem as mãos. Hoje milhões de pessoas lavam as mãos diariamente, e não por terem medo da policia do sabão, mas porque conhecem os factos. Eu lavo as minhas mãos com sabão porque ouvi falar de vírus e bactérias. Compreendo que esses organismos minúsculos provocam doenças, e sei que o sabão pode removê-los.”

“Em condições normais, a confiança que se foi desgastando ao longo de anos não pode ser reconstruída da noite para o dia. Mas estes não são tempos normais. Num momento de crise, as mentes também podem mudar rapidamente. Podemos ter discussões amargas com os nossos irmãos durante anos, mas quando acontece alguma emergência descobrimos subitamente um reservatório oculto de confiança e amizade, e corremos a ajudar-nos uns aos outros.”

“A epidemia do coronavírus é, deste modo, um grande teste de cidadania. Nos dias que se avizinham, cada um de nós deve escolher confiar nos dados científicos e nos especialistas de saúde, não em teorias da conspiração sem fundamento ou em políticos que falam por interesse próprio. Se não fizermos a escolha certa, podemos dar connosco a renunciar às nossas liberdades mais preciosas, julgando que isso é a única forma de salvaguardar a nossa saúde.”

Fonte: Expresso Revista, ed. 2475| 04-04-2020 (tradução de Luis M.Faria)

Proteja-se a si e aos outros. Fique em casa.